quinta-feira, 4 de junho de 2009

TEXTO E LEITOR

TEXTO E LEITOR
Aspectos Cognitivos da leitura
Ângela Kleiman

Compreender um texto escrito não é apenas um ato cognitivo, pois a leitura é um ato social, entre dois sujeitos – leitor e autor – que interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados.

A compreensão de um texto escrito envolve a compreensão de frases e sentenças, de argumentos, de provas formais e informais, de objetivos, de intenções, muitas vezes de ações e de motivações, isto é, abrange muitas das possíveis dimensões do ato de compreender, se pensamos que a compreensão verbal inclui desde a compreensão de uma charada até a compreensão de uma obra de arte.

Todo professor de qualquer matéria é também um professor de leitura. Se o professor conhecer as características e dimensões do ato de ler, menores serão as possibilidades de propor tarefas que trivializem a atividade de ler, ou que limitem o potencial do leitor de engajar suas capacidades intelectuais e , portanto, mais próximo estará esse professor do objetivo de formação de leitores.


Vivência 1: Leitura e análise do texto (entregar cópia)

O CONHECIMENTO PRÉVIO NA LEITURA

“A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio : o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão.”

Os níveis de conhecimento que entram em jogo durante a leitura:

Conhecimento lingüístico : é o conhecimento implícito, não verbalizado, nem verbalizável.
Conhecimento sobre como pronunciar português
Conhecimento de vocabulário e regras da língua
Conhecimento sobre o uso da língua


Vivência 2 : Leitura e análise do texto (entregar cópia)

Algumas vezes a informação lingüística é insuficiente para permitir a compreensão. Nesses casos outros tipos de conhecimento podem ajudar a desfazer a obscuridade ou ambigüidade, num processo de engajamento da memória e do conhecimento do leitor que é, interativo e compensatório, isto é, ele ativa outros tipos de conhecimento para compensar as falhas momentâneas.


2.Conhecimento textual : é o conjunto de noções e conceitos sobre o texto
Conhecimento dos diversos tipos de texto
Conhecimento de formas de discurso


Tipos de texto:
- do ponto de vista da estrutura : narrativa
expositiva
descritiva

A estrutura narrativa se caracteriza por :
a) marcação temporal cronológica (tempos verbais para sinalizar momentos narrativos)
b) causalidade ( o porquê do fato)
c) destaque dado aos agentes das ações (personagens)

Componentes da narrativa padrão ou canônica:
Cenário ( lugar onde os fatos acontecem, apresentação dos personagens, o pano de fundo da história)
Complicação (início da trama)
Resolução (desenrolar da trama até o final)

A estrutura expositiva se caracteriza por:
a) a orientação temporal é irrelevante
b) a ênfase está nas idéias, não nas ações
c) os agentes das ações não são relevantes
d) está organizada em componentes ligados entre si por relações lógicas:
Premissa e conclusão
Problema e solução
Tese e evidência : na forma de silogismo
por autoridade
na forma de comparação
Causa e efeito
Analogia
Comparação
Definição e exemplo

A estrutura descritiva se caracteriza por :
a) presença de efeitos descritivos : qualidades, elementos do objeto, acúmulo de adjetivos e orações adjetivas (qualifica ou particulariza o objeto)
b) orientação atemporal (usa-se o presente e o pretérito imperfeito)

Formas de discurso : Narrativo
Descritivo
Argumentativo

Promove a interação autor-leitor
O autor se propõe a fazer algo, tem uma intenção
O leitor escuta o autor e depois o aceita, julga ou rejeita

a) discurso narrativo = o autor compromete-se a contar algo que valha a pena ser contado
b) discurso descritivo = o autor tenciona apresentar uma atitude , avaliação, uma sensação, a fim de que o leitor a possa recriar
c) discurso argumentativo = o autor apresenta uma tese e argumentos para convencer o leitor.


Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão, pois o conhecimento das estruturas textuais e de tipos de discurso determinará suas expectativas em relação ao texto.

Vivência 3 : : Leitura e análise do texto (entregar cópia)

3. Conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico : pode ser adquirido formalmente ou informalmente. É a ativação na memória de informações relevantes para o assunto, a partir de elementos formais fornecidos no texto.

“ A ativação do conhecimento prévio é, então, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente. Este tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente.”

Vivência 4 : Leitura e análise do texto (entregar cópia)


OBJETIVOS E EXPECTATIVAS DE LEITURA

O contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em relação à atividade de leitura.

Leitura : como pretexto para cópias
resumos
análise sintática
ensino da língua

Quando nos é fornecido um objetivo para a realização de uma tarefa, nossa capacidade de processamento e de memória melhoram significativamente.
Quando o objetivo é específico somos capazes de lembrar melhor detalhes de um texto.
Para os especialistas não há um processo de compreensão de texto escrito, mas há vários, sempre ativos, tantos quantos forem os objetivos do leitor e esses são determinados pelos tipos ou formas de textos.
A forma do texto pode determinar os objetivos da leitura. Por exemplo:

- a leitura de um jornal : - apreensão rápida de uma informação visual (passar os
olhos)
- localizar uma notícia de interesse e procurar detalhes
sobre o assunto
- ler seletivamente alguns parágrafos se há dúvida no
interesse pela notícia

- a leitura de uma bula de remédio se presta a poucos objetivos
- a leitura de romances pode atender a uma infinidade de propósitos

A capacidade de estabelecer objetivos na leitura é considerada uma estratégia metacognitiva, isto é, uma estratégia de controle e regulamento do próprio conhecimento, uma reflexão sobre o próprio conhecimento. Esse conhecimento é desenvolvido ao longo dos anos de uma pessoa.
As estratégias metacognitivas na leitura permitem afirmar que a leitura é um processo só, que as diferentes maneiras de ler são apenas caminhos diversos para alcançar um objetivo pretendido.
A leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um propósito não é propriamente leitura.
A leitura imposta, desmotivada não conduz à aprendizagem, é apenas uma leitura mecânica, sem significado ou sentido.

Os objetivos na leitura são também importantes para a formulação de hipóteses, outro aspecto da atividade leitora que contribui para a compreensão.
O leitor ativo elabora hipóteses e as testa, à medida que vai lendo o texto. Por exemplo : se temos como objetivo saber qual é a opinião do editor do jornal sobre determinado assunto, leremos o editorial com uma série de expectativas já presentes.

A criança em fase de alfabetização lê decodificando (correspondendo letra e som)
O leitor adulto não decodifica; ele percebe as palavras globalmente e adivinha muitas outras, guiado pelo seu conhecimento prévio e por suas hipóteses de leitura.




Atividades relevantes para a compreensão de texto escrito:


estabelecimento + formulação = são atividades que pressupõem
de objetivos de hipóteses reflexão e controle consciente
sobre o próprio conhecimento
(metacognição)



Vivência 5 : Leitura e análise do texto (entregar cópia)

ESTRATÉGIAS DE PROCESSAMENTO DO TEXTO

Texto = unidade semântica onde se materializam os vários elementos de significação através das categorias lexicais, sintáticas, semânticas, estruturais.

A compreensão de um texto se dá através de :
elementos extralingüísticos
elementos lingüísticos

Exemplos de elementos lingüísticos que ajudam na compreensão:
uso do pretérito imperfeito = para formação do pano de fundo nas narrativas
uso do futuro do pretérito = para indicar falta de comprometimento do autor com a veracidade do fato exposto

Em textos extensos, os elementos que relacionam as suas diversas partes são instrumentos de construção do seu significado.
O conjunto de elementos que formam as ligações no texto é chamado de COESÃO.
Esses elementos servem de pistas para a construção do significado do texto.

Vivência 6 : Leitura e análise do texto (entregar cópia)

Um texto coeso (enxuto) pode não ser um texto coerente. Às vezes, a presença de um item lexical pode fazer a diferença entre um texto coerente ou incoerente.
O processo através do qual utilizamos elementos formais do texto para fazer as ligações necessárias à construção de um contexto é um processo inferencial de natureza inconsciente. Por isso é considerado uma estratégia cognitiva de leitura.




LEITURA = interação constante dos diversos níveis de conhecimento


nível sintático
nível semântico
nível extralingüístico


a fim de construir a coerência:
· local (coesão entre as seqüências ) = microestrutura do texto
· temática (construção de um sentido único) = macroestrutura do texto


Microestrutura do texto = elementos contíguos ou seqüências do texto
Macroestrutura do texto = seqüências maiores, como períodos e parágrafos

INTERAÇÃO NA LEITURA DE TEXTOS

A atividade de leitura é uma interação a distância entre leitor e autor via texto.

Ações do leitor :
construir um significado global para o texto
procurar pistas formais
antecipar essas pistas
formular e reformular hipóteses
aceitar ou rejeitar conclusões

Ações do autor :
buscar a adesão do leitor
apresentar, da melhor maneira possível: os melhores argumentos
a evidência mais convincente
· organizar e deixar no texto pistas formais que facilitem a consecução de seu objetivo

Kleiman, Ângela. Texto e Leitor : Aspectos Cognitivos da Leitura . 8ª edição. Campinas. São Paulo, Pontes, 2002.

Fechamento (Metacognição)
sobre o que falamos hoje?
Dúvidas que ainda não foram solucionadas
Quais estratégias formativas poderão ser utilizadas no trabalho com os professores
Propostas de temas a serem discutidos nos próximos encontros

9. Avaliação do encontro

O que eu apreendi
O que eu senti
O que eu sugiro





Tarefas:
a) devolutiva da aplicação da 2ª fase : modelos e dados
b) vivenciar com os professores a análise do livro didático e as questões discutidas na formação . Solicitar-lhes que reflitam sobre:
· que gêneros textuais ou gênero textual ficaria sob responsabilidade de cada área do conhecimento
· que gêneros precisariam ser trabalhados com a ajuda do professor e quais podem ser trabalhados sem esta ajuda
· como trabalham com os textos : só lê, só escreve, lê e escreve
· como a nossa formação poderia auxiliar-lhes no reconhecimento da estrutura e trabalho com os diferentes gêneros
· faz uso de outros portadores em suas aulas? Quais? Com que freqüência?
c) leitura do texto : Sole, Isabel. Ler, leitura, compreensão : Sempre falamos da mesma coisa. In Teberosky, Ana. Compreensão de Leitura. Artmed.

Nenhum comentário:

Postar um comentário